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Gonçalves Sobrinho Márcia


“O Passado é História, o Futuro é mistério e o Presente é uma dádiva, por isso é que se chama presente”

Não sei o quanto será comum apresentar no título de uma redação uma frase citada por outrem. No entanto, li há pouco tempo esta afirmação dita por um personagem do Kung Fu Panda enquanto dava scroll pelo TikTok e não podia deixar de a incluir aqui. Achei que era a frase perfeita para este textinho que a professora mandara redigir!

Este provérbio chinês traduz-nos, de forma sensata, a essência do “mindfulness”, que nada mais será do que a capacidade de estar presente, ter consciência do que se passa ao nosso redor, com as nossas emoções e com o nosso corpo, também. Dito desta maneira nem parece tão difícil porém, desligar o piloto automático e tentar ter noção desta prenda, que nos foi dada pela vida, pode ser um verdadeiro desafio... Mas até que ponto a “história” do passado e o “mistério” do futuro influenciam esta nossa “dádiva”?

Pela minha perspectiva, a pergunta que coloquei pode ser respondida tão facilmente e tão dificilmente, ao mesmo tempo. Aquilo a que chamamos passado, querendo ou não, fez de cada um de nós a pessoa que somos. Desde a forma como vemos o mundo, à forma como nos vestimos, a forma como tratamos quem amamos, à forma como nos vemos a nós próprios.

O meu passado... Não me posso referir a ele como algo maravilhoso, espantoso, algo que fez de mim uma pessoa incrível, porque estaria a mentir! Mas sei que me posso referir a ele como algo que fez de mim um ser com maturidade suficiente para encarar o meu futuro com menos receio do que por aí virá. Como  a toda a gente na vida, na minha história tive muitas coisas boas, menos boas, coisas que me fizeram rir, a ponto de dar aquela dorzinha na barriga, coisas que me fizeram chorar, a ponto de acordar na manhã seguinte com o nariz e os olhos inchados. O engraçado de tudo isto é que, por muito que me dessem outras opções, ditas melhores, ou por muito que me dessem oportunidade para mudar o meu passado, não o faria. Ele, como já disse, fez de mim a pessoa que sou. Ensinou-se a amar as pessoas que amo com uma intensidade inexplicável. Ensinou-se a cair e voltar a levantar-me, por muito pequena que a queda fosse. Ensinou-me a respeitar as pessoas mais velhas e a lutar pelas minhas próprias ambições. A realidade do que é viver no mundo como o herdei, como a minha geração o herdou. A ter noção de que estou errada quando estou, e a pedir desculpa de seguida. Ensinou-me a ser um pouquinho teimosa e a querer tudo à minha maneira. Mas esta é a minha essência e é isto que faz de mim quem sou agora, neste presente, nesta dádiva, nesta prenda.

A mais pura verdade nisto tudo é que o tempo não pára, os ponteiros do relógios estão sempre a girar e o tempo a passar, hora após hora, dia após dia, ano após ano. Alguns tentam controlar o que por aí virá, aquele mistério que todos no mundo receamos, nem que seja um pedacinho. Outros simplesmente anseiam pelo melhor. Seja como for, o inevitável será pensar no Futuro.

Será que tentar adivinhar o futuro pode alterá-lo? Será que o que fazemos agora, no Presente, pode definir quem iremos ser?

A ambas as perguntas a resposta é indefinida, o futuro, como disse o Mestre Oogway ao Po e como cita o provérbio chinês, é um mistério. É isso que faz dele algo, um tanto quanto, bonito. Se tivéssemos noção do que se passaria amanhã ou daqui a 10 anos, a vida não teria o mínimo de sentido, não teria a mínima graça. Seria tudo direcionado para aquilo que já sabiamos, não teriamos oportunidade de cometer erros e de aprender com os mesmos.

A capacidade de sonhar e visualizar o que ainda está por vir, o que mistério do futuro nos vai oferecer, é uma das maiores dádivas da Humanidade. Estes vislumbres, por mais ambiciosos ou subtis que sejam, comportam-se como um mapa, que nos guiará e impulsionará a agir e a prosseguir com os nossos objetivos. Este mapa que representa as nossas esperanças, os nosso desejos e sonhos, que serve de farol que nos ajuda a navegar nos mares tumultuosos da vida, é que faz do Futuro algo brilhante e apavorante.

A vida é uma combinação de memórias passadas, experiências presentes e sonhos futuros. É basicamente uma montanha-russa, um mar, com os seus altos e baixos, marés mais agitadas e marés mais brandas. O importante nela, independentemente da História, da Dádiva ou do Mistério, é vive-la de maneira a que não nos arrependamos.

 




Submitted: 22:47 Tue, 27 February 2024 by : Gonçalves Sobrinho Márcia age : 17